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Ah... tanto mar. Tanto amor.
Sou um pedaço de vida que desperta a cada instante. Amo!
Teve um dia em que o mar levou um corpo, cheio de pensar, de achar. Neste mesmo dia o corpo escoriado nadou, sentiu, amou no mar. Viveu em mar. No corpo, agora Maria. Cheia de sentir. Muito que viver, tanto que amar. Ainda sim, cheia de pensar. Mas quando escreve, não pensa, transmite.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Carta a um anjo loiro

Anjo menino, aquele que um dia fomos um do outro. Pecamos (gostoso, sim) por deixarmos, cada um, seu próprio ser, para sermos um do outro. Mas é coisa, assim, de um aprendizado que faz parte do caminho. Preenche o rol de ensinamentos da vida.
Teu corpo era meu. Eu o tinha todo, era meu documentado por palavras suas. E ficava louca, doente, de ver teu corpo meu ao caminho de outro corpo de mulher. Nem em pensamento! Enfraquecia ao querer-te tanto, mas você às vezes preferia a distância, ou a proximidade de outros corpos. Em certos momentos nem o queria, mas ainda investia muita energia em querer-te sem mais ninguém. Neste querer controlador, morri uma parte de mim.
Tua alma era minha. Dei a minha a ti e fiquei vazia, tentando me preencher daquela que sugava de ti, mesmo dizendo a mim que me dava com todo teu amor. Assim, ficou vazio também. Nossas almas vaguearam atônitas, sem corpos, procurando por direções.
Teus planos, teus sonhos, teu destino eram meus. Era tua mulher, tua amante, tua sereia. Cheguei a ser mãe de teus filhos e até avó de teus netos, pode? Dona de teus bens, avaliadora de tuas idéias, controladora de tuas vontades.
Anjo loiro, tentou me mostrar a forma de não ser. Deixei submisso meu corpo a ti para que fizesse dele as tuas vontades. Tal como fiz com minha alma, meus planos, sonhos, destino e idéias. Pecamos em nos abandonarmos. Eu a mim. Você a ti. E ousamos faze-lo em nome do amor.
Hoje te amo, ao certo, cada tanto que me amo. Cada tanto que sou eu, reconheço que não preciso de ti (e de ninguém), libertando você e a parte de mim que se ocupava em achar tê-lo prisioneiro dela. Em paz reconheço o amor que me sustenta.
Um dia, depois, bem depois de você, achei ter amado outro anjo, um anjo negro. Achei estar, desta vez, bem segura de minha alma e de meu corpo. Em tom benevolente, dizia em palavras que o queria livre, como já o era, para que assim fossemos juntos. Quando me dei conta, enquanto rendia meu corpo todo a ele, dizendo ser meu corpo todo dele, minha alma era vendida para ser minha a sua liberdade. Matei, de novo, um grande tanto de mim.
Meu anjo loiro, tentou me mostrar, mas não entendi. Hoje reli nossas cartas. Hoje entendo. Precisei me matar duas vezes para entender.
Agora um outro anjo me aparece. Uma fagulha ainda acesa dessa fogueira de ilusões que me consome e que agora tento apagar, teima em ver nosso futuro, planejar nossos afagos. Mais segura estou de meu ser, mas meu corpo quer ter o dele, e quase que meus planos, meus sonhos, meu destino querem ser os dele. Entender eu já entendi, mas caio em tentação. Com força e com doçura exercito em desfazer meus planos, viver meus sonhos e desconheçer nossos destinos.
Peço ao céu, meu anjo, para que eu saiba me entregar, íntegra, aos sabores da vida e a todos os anjos. Que eu seja apenas Eu, para, em união, Ser com todos Um. Que eu seja livre, para dançar feliz o grande bailado do Universo.
Jallalla.

3 comentários:

Dea Conti disse...

Lindo texto, filhota, amei! Quanta inspiração! Esses anjos, aposto, adorariam saber que foram fonte dessa sua criação.

beijocas da mama

cigarra disse...

Claudia,
lindo, lindo, lindo! Suas palavras são sábias e profundas, e o lirismo do seu texto encantador.
Orgulho da minha irmazinha.
Te amo,
Flá

ram horizonte disse...

Uauuuu, estava inspiradíssima! Bonito, profundo, auto-conhecimento e maturidade. Boas energias para você. Bjs