Verás aqui...

Ah... tanto mar. Tanto amor.
Sou um pedaço de vida que desperta a cada instante. Amo!
Teve um dia em que o mar levou um corpo, cheio de pensar, de achar. Neste mesmo dia o corpo escoriado nadou, sentiu, amou no mar. Viveu em mar. No corpo, agora Maria. Cheia de sentir. Muito que viver, tanto que amar. Ainda sim, cheia de pensar. Mas quando escreve, não pensa, transmite.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Dificuldade

Era ainda começo de tarde. A corrida lá atrás do balcão tava atrapalhada. Sabe como é, né, quinta-feira, véspera de feriado, o trabalho da gente se auto dá por não ter mais nada que se resolver, mesmo se há insatisfação do cliente, do chefe, ou do próprio senso de executor da tarefa a dever ser cumprida pra curto prazo. No bar então vai chegando gente, em turmas, sozinho, a dois, e a fantasia de pessoa séria e responsável lá do escritório aos poucos se transmuta em diversas outras, cada qual escolhe a sua, vai conforme o assunto, a companhia, as dores do dia.
No balcão, pelo lado de fora:
- Hei, frita aí, Zé, uma porção de bolinho de bacalhau e faz duas de batatinha. Vai logo que os moço lá da mesa disse que tá com fome. E disseram que tá difícil de esperá.
Do balcão pra dentro:
- Mas fala aí, Zé, continua.
-Então véio, tá difícil, viu! A muié disse que se eu não resolvê logo, ela pega as criança e vai pra casa da mãe. Disse que num guenta mais. Que dessa vida não qué mais vivê, que tá difícil, que as criança tão sofrendo minha falta e que eu num to sabendo botá educação nelas direito.
-Difícil é ela morá com a véia dela. Êita véia chata aquela véia. Vai vê só, se ela for, pode esperá que volta rapidinho.
No balcão, de fora:
-Ó Zé, vai logo, mano! E manda mais um x-salada. Não é pra colocá cebola que a muié lá disse que é difícil a digeristão. É, acho que foi isso que ela falô – pegou as cervejas na geladeira e foi levar pra mesa dos três engravatados, com pinta de bonitões, sorrisos largos, risadas vistosas, para justamente ter a intenção de dá-las a vista.
Na mesa:
-Poisé meu querido, a garota tá se fazendo de difícil pra cima de mim. E mesmo assim me dá a maior bola. Passa por mim rebolando aquela baita buzanfa, e parece que só levanta o peito pra fora só quando passa por mim.
- É, definitivamente, ela tá dando mole mesmo. Pega ela logo.
- É, pega a mina!
- Putz, mas tá difícil mesmo. Ela vem, vem, vem, e quando tá pertinho vira a cara. Êta, como entender mulher é difícil, viu! Olha só naquela mesa, as duas gatinhas não param de olhar pra cá.
Naquela mesa.
-Ai, Cá, mas eu não acho assim. Essas coisas são difíceis mesmo. É por isso que eu sempre falo que tem que trabalhar o espírito. Dificuldade todos têm, aparece na vida de todo mundo, mas a gente tem que saber lidar com elas sem ficar sofrendo, reclamando, se fazendo de vítima.
- É, eu sei, mas olha a nossa volta, olha quanta gente diferente. Quem é que compartilha a mesma vibração que estamos falando, essa que estamos tentando viver? Tá cada um se importando com o seu próprio umbigo. Ninguém se importa com ninguém. As relações estão cada vez mais difíceis nesse mundo. Ô moço, faz um suco de açaí com laranja pra mim, por favor? Sem açúcar. Ai, Má, tá tão difícil emagrecer! Tá vendo aquela moça? Então queria ser magrinha igual a ela.
E a moça magrinha:
-Hahahahahaha. Foi engraçado mesmo. O cara tentando manter a pôse, naquele terno ridículo, que difícil era de combinar a camisa listrada com a gravata verde musgo, e gaguejando todo. Tentava se explicar, mas cada vez ficava mais difícil se fazer entender. Se ferrou. Mereceu.
-Hahahaha. Credo, Cris. Coitado dele. Ele tem dificuldade em se expressar. Ele não é como você pensa. É só um pouco bobo no falar. Hahaha, mas que foi engraçado foi. Foi difícil não rir na cara do homem!
E lá dentro o samba começa a tocar. O burburinho aumenta, as mesas se esgotam e inicia a fila de espera. Pessoas bebem na calçada mesmo, encostadas nos carros estacionados na rua. E os varredores de rua, que já estavam para dar cabo no horário do trabalho, passam sambando pelos que reclamam das dificuldades da existência, sacudindo o corpo das travas do dia pesado de trabalho forçoso, às gargalhadas:
- É... difícil é não gostar dessa vida, fala aí, Chicão!
- Ô... ! Samba aí meu povo!

3 comentários:

Dea Conti disse...

Muito legal!
Quanto desencontro, não é mesmo?

bjs da mama

cigarra disse...

Caca,
meu amor! Acho muito legal vc estar desenvolvendo essa veia literaria.
Va em frente!
Saudedes e muita. Penso em vc, Lau, Mamys e pays todos os dias. Queria estar compartilhando essa viagem com vc tambem.
E ai, vamos nor ver na India?
te amo,
farofa

Prem Madhuri disse...

India India India!!!!!