Era ainda começo de tarde. A corrida lá atrás do balcão tava atrapalhada. Sabe como é, né, quinta-feira, véspera de feriado, o trabalho da gente se auto dá por não ter mais nada que se resolver, mesmo se há insatisfação do cliente, do chefe, ou do próprio senso de executor da tarefa a dever ser cumprida pra curto prazo. No bar então vai chegando gente, em turmas, sozinho, a dois, e a fantasia de pessoa séria e responsável lá do escritório aos poucos se transmuta em diversas outras, cada qual escolhe a sua, vai conforme o assunto, a companhia, as dores do dia.
No balcão, pelo lado de fora:
- Hei, frita aí, Zé, uma porção de bolinho de bacalhau e faz duas de batatinha. Vai logo que os moço lá da mesa disse que tá com fome. E disseram que tá difícil de esperá.
Do balcão pra dentro:
- Mas fala aí, Zé, continua.
-Então véio, tá difícil, viu! A muié disse que se eu não resolvê logo, ela pega as criança e vai pra casa da mãe. Disse que num guenta mais. Que dessa vida não qué mais vivê, que tá difícil, que as criança tão sofrendo minha falta e que eu num to sabendo botá educação nelas direito.
-Difícil é ela morá com a véia dela. Êita véia chata aquela véia. Vai vê só, se ela for, pode esperá que volta rapidinho.
No balcão, de fora:
-Ó Zé, vai logo, mano! E manda mais um x-salada. Não é pra colocá cebola que a muié lá disse que é difícil a digeristão. É, acho que foi isso que ela falô – pegou as cervejas na geladeira e foi levar pra mesa dos três engravatados, com pinta de bonitões, sorrisos largos, risadas vistosas, para justamente ter a intenção de dá-las a vista.
Na mesa:
-Poisé meu querido, a garota tá se fazendo de difícil pra cima de mim. E mesmo assim me dá a maior bola. Passa por mim rebolando aquela baita buzanfa, e parece que só levanta o peito pra fora só quando passa por mim.
- É, definitivamente, ela tá dando mole mesmo. Pega ela logo.
- É, pega a mina!
- Putz, mas tá difícil mesmo. Ela vem, vem, vem, e quando tá pertinho vira a cara. Êta, como entender mulher é difícil, viu! Olha só naquela mesa, as duas gatinhas não param de olhar pra cá.
Naquela mesa.
-Ai, Cá, mas eu não acho assim. Essas coisas são difíceis mesmo. É por isso que eu sempre falo que tem que trabalhar o espírito. Dificuldade todos têm, aparece na vida de todo mundo, mas a gente tem que saber lidar com elas sem ficar sofrendo, reclamando, se fazendo de vítima.
- É, eu sei, mas olha a nossa volta, olha quanta gente diferente. Quem é que compartilha a mesma vibração que estamos falando, essa que estamos tentando viver? Tá cada um se importando com o seu próprio umbigo. Ninguém se importa com ninguém. As relações estão cada vez mais difíceis nesse mundo. Ô moço, faz um suco de açaí com laranja pra mim, por favor? Sem açúcar. Ai, Má, tá tão difícil emagrecer! Tá vendo aquela moça? Então queria ser magrinha igual a ela.
E a moça magrinha:
-Hahahahahaha. Foi engraçado mesmo. O cara tentando manter a pôse, naquele terno ridículo, que difícil era de combinar a camisa listrada com a gravata verde musgo, e gaguejando todo. Tentava se explicar, mas cada vez ficava mais difícil se fazer entender. Se ferrou. Mereceu.
-Hahahaha. Credo, Cris. Coitado dele. Ele tem dificuldade em se expressar. Ele não é como você pensa. É só um pouco bobo no falar. Hahaha, mas que foi engraçado foi. Foi difícil não rir na cara do homem!
E lá dentro o samba começa a tocar. O burburinho aumenta, as mesas se esgotam e inicia a fila de espera. Pessoas bebem na calçada mesmo, encostadas nos carros estacionados na rua. E os varredores de rua, que já estavam para dar cabo no horário do trabalho, passam sambando pelos que reclamam das dificuldades da existência, sacudindo o corpo das travas do dia pesado de trabalho forçoso, às gargalhadas:
- É... difícil é não gostar dessa vida, fala aí, Chicão!
- Ô... ! Samba aí meu povo!
No balcão, pelo lado de fora:
- Hei, frita aí, Zé, uma porção de bolinho de bacalhau e faz duas de batatinha. Vai logo que os moço lá da mesa disse que tá com fome. E disseram que tá difícil de esperá.
Do balcão pra dentro:
- Mas fala aí, Zé, continua.
-Então véio, tá difícil, viu! A muié disse que se eu não resolvê logo, ela pega as criança e vai pra casa da mãe. Disse que num guenta mais. Que dessa vida não qué mais vivê, que tá difícil, que as criança tão sofrendo minha falta e que eu num to sabendo botá educação nelas direito.
-Difícil é ela morá com a véia dela. Êita véia chata aquela véia. Vai vê só, se ela for, pode esperá que volta rapidinho.
No balcão, de fora:
-Ó Zé, vai logo, mano! E manda mais um x-salada. Não é pra colocá cebola que a muié lá disse que é difícil a digeristão. É, acho que foi isso que ela falô – pegou as cervejas na geladeira e foi levar pra mesa dos três engravatados, com pinta de bonitões, sorrisos largos, risadas vistosas, para justamente ter a intenção de dá-las a vista.
Na mesa:
-Poisé meu querido, a garota tá se fazendo de difícil pra cima de mim. E mesmo assim me dá a maior bola. Passa por mim rebolando aquela baita buzanfa, e parece que só levanta o peito pra fora só quando passa por mim.
- É, definitivamente, ela tá dando mole mesmo. Pega ela logo.
- É, pega a mina!
- Putz, mas tá difícil mesmo. Ela vem, vem, vem, e quando tá pertinho vira a cara. Êta, como entender mulher é difícil, viu! Olha só naquela mesa, as duas gatinhas não param de olhar pra cá.
Naquela mesa.
-Ai, Cá, mas eu não acho assim. Essas coisas são difíceis mesmo. É por isso que eu sempre falo que tem que trabalhar o espírito. Dificuldade todos têm, aparece na vida de todo mundo, mas a gente tem que saber lidar com elas sem ficar sofrendo, reclamando, se fazendo de vítima.
- É, eu sei, mas olha a nossa volta, olha quanta gente diferente. Quem é que compartilha a mesma vibração que estamos falando, essa que estamos tentando viver? Tá cada um se importando com o seu próprio umbigo. Ninguém se importa com ninguém. As relações estão cada vez mais difíceis nesse mundo. Ô moço, faz um suco de açaí com laranja pra mim, por favor? Sem açúcar. Ai, Má, tá tão difícil emagrecer! Tá vendo aquela moça? Então queria ser magrinha igual a ela.
E a moça magrinha:
-Hahahahahaha. Foi engraçado mesmo. O cara tentando manter a pôse, naquele terno ridículo, que difícil era de combinar a camisa listrada com a gravata verde musgo, e gaguejando todo. Tentava se explicar, mas cada vez ficava mais difícil se fazer entender. Se ferrou. Mereceu.
-Hahahaha. Credo, Cris. Coitado dele. Ele tem dificuldade em se expressar. Ele não é como você pensa. É só um pouco bobo no falar. Hahaha, mas que foi engraçado foi. Foi difícil não rir na cara do homem!
E lá dentro o samba começa a tocar. O burburinho aumenta, as mesas se esgotam e inicia a fila de espera. Pessoas bebem na calçada mesmo, encostadas nos carros estacionados na rua. E os varredores de rua, que já estavam para dar cabo no horário do trabalho, passam sambando pelos que reclamam das dificuldades da existência, sacudindo o corpo das travas do dia pesado de trabalho forçoso, às gargalhadas:
- É... difícil é não gostar dessa vida, fala aí, Chicão!
- Ô... ! Samba aí meu povo!
3 comentários:
Muito legal!
Quanto desencontro, não é mesmo?
bjs da mama
Caca,
meu amor! Acho muito legal vc estar desenvolvendo essa veia literaria.
Va em frente!
Saudedes e muita. Penso em vc, Lau, Mamys e pays todos os dias. Queria estar compartilhando essa viagem com vc tambem.
E ai, vamos nor ver na India?
te amo,
farofa
India India India!!!!!
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